Anoitan

“Se sempre há um amanhã, sempre há um anoitã.”

Archive for the ‘Filosofia’ Category

Do toque que não quero estar nem ser. E dos que preciso, mas evito

Posted by adi em maio 6, 2014

Por Elielson

 

Primeiro, sou a favor sim de melhores meios de defesa individuais.
Mais do que nunca, merece-se a análise do fantasma que ronda a sociedade brasileira há algum tempo.
Autoridades de todas instituições possíveis semeiam a divisão popular desde os levantes de junho. É como se uma moeda caísse em alguma conta sempre que pronunciadas as palavras esquerda ou direita, preto ou branco, e por aí vaí. E funciona. Não há o que lamentar, sempre funcionou, não sei se sempre funcionará.
Instintos primitivos regem o que supostamente o homem chama de razão, e regem ainda mais no caso de uma opinião supostamente racional ser exposta ao organismo social.
Sobrevivência ainda é algo ligado a disputa no profundo dos seres, e simplesmente para apurar seus instintos ou treiná-los, as exposições de opiniões ficam sempre em patamar ideológico, onde a disputa vital, sob o capuz do egoísmo, caminha a passos curtos, onde mecanismos fortalecidos enchem-se de autoverdades e autojustificativas que lhe dão sensações potencializadas de existência.

Sem mais enrolações, mataram uma mulher inocente na onda de linchamentos que é evidenciada no Brasil. Coroa-se um dos lados dessa disputa, de um humanismo sem ações concretas, de discursos seculares, contra o do medo e insegurança, que se desenvolve pro sádico e carniceiro.
E assim vem milhares de questões na mente de quem sabe, que uma coisa é uma coisa, e que outra coisa é outra coisa, e que cada coisa é única.
A violência, o sangue, os culpados e desculpados, tudo se amontoa numa pilha que faz cegar pro inimigo.

O inimigo em si e o inimigo para si.

Quem em você vai matar algo ruim sem a prova, digamos, “dexteriana”, que não deixará nenhuma dúvida sobre a nocividade de um elemento sádico?
De qualquer modo, sua violência, para entrar em ação, sempre vai analisar dois pontos.
– A covardia
– O sacrifício
Tudo que não é covardia é sacrifício, e lamentavelmente só se pode ser covarde com aquilo que é ignorante e desprotegido. Digo lamentavelmente porque não podemos matar, pelo menos sem sacrifício, aqueles que realmente nos fazem mal, esses, sábios em suas malandragens e protegidos, ironicamente pela nossa contribuição.
Agora vamos ao humanismo, e deixemos de lado aqueles que pensam que todo mundo pode ser bom e que a natureza é angelical. Esse humanismo acredita que devemos ter uma cautela puramente sacrificial, que devemos ser presas convertendo predadores. Intenções muito lindas acredito. Até atrai-me sim. Mas, seria-se humano assim até que ponto? E acreditem, sempre há um ponto onde se entrega os pontos.
É medo de si que não permite certas atitudes? Ou é medo da lei?
É sacrifício mesmo que acredita na bondade natural, ou é uma posição confortável?
Quem é que bate naquele que está na infância dos pecados comparado a alguns que batem?
Quem já viu o mal de perto daqueles que acreditam em conversão?
Quem é justiceiro o suficiente pra chutar um leão fora da jaula, e não chutar pequeninos vira-latas em atitudes sem efeito?

Vi muitos humanistas governando.
Vi muita gente horrivel batendo em gente má.

Mas o bom é governar sua própria humanidade e matar seus próprios inimigos.

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Da Modernidade Líquida de Bauman à Sólida de René Guénon

Posted by Sem em abril 19, 2014

Um texto da maior importância, da maior importância…

 

Retirado do blog Projeto Phronesis, que por sua vez cita a fonte http://www.reneguenon.net/GUENONtextos/IRGETGuenonCaimAbel.html

 

Partilho – com ênfase – porque considero esse texto de René Guénon uma das peças fundamentais para elucidar ao quebra-cabeça que vimos montando: dos símbolos que fazem mover ao homem, movendo a humanidade desde os primórdios, das primeiras civilizações até a modernidade.

Sim, pois, compreendendo aos símbolos podemos compreender não apenas ao nosso passado e as razões do nosso presente, mas, projetar ao futuro…

De quebra, o texto de Guénon também nos dá uma aula extra sobre alquimia, revelando uma das chaves para a passagem dos sólidos aos líquidos, ou vice-versa…

Um texto elucidativo, filosoficamente falando, pós-moderno e antigo, se assim posso me expressar… Nada a acrescentar ou discordar do pensamento do autor. Gostaria apenas de deixar meu registro de que tanto “Caim” quanto “Abel” são filhos de Deus, e que todas as formas e estados da matéria – “sólidos”, “líquidos” – são possíveis, e, de fato, existem na Natureza…

Vivemos num tempo em que o nosso maior desafio não é tomar mais o partido de um dos lados, instando a cada um fazer suas “escolhas”. Pois não nos convêm mais – como projeto de futuro – eternizar a crucificação de Cristo, formulando como saída de cada crise que enfrentemos, outros e novos bodes expiatórios, execrando continuamente na figura do “estrangeiro”, do “inimigo”, do “herege” – e de tantos “outros” que fazem o nosso “próximo” se tornar “distante”, essa figura fictícia que carrega para longe de nossas vistas a nossa própria incapacidade de reconhecer em nós mesmos a origem de nossas dificuldades. Não nos serve mais essa saída – se pretendemos um projeto mais elevado para a humanidade, pois, na prática, a solução do bode expiatório torna não apenas a realidade do outro impossível, mas a nossa existência menor, em verdade, um inferno de vigilância e medo para todos os lados. O desafio da nova etapa da humanidade é como tornar possível a convivência – senão pacífica – sem prejuízo para nenhuma das partes.  Isso, ou, o quê? Arriscar Continue lendo »

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Pérola do Oriente

Posted by adi em março 19, 2014

Do livro Chuang Tzu – Ensinamentos Essenciais.

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” O artesão Ch’ui conseguia traçar uma linha reta qual fio esticado, e fazia um círculo tão perfeito quanto um compasso. O segredo? Deixava a sua mão mudar com a mudança das coisas, e não permitia que o seu coração e a sua mente se distraíssem. Assim conservava a morada do espírito unificada, porém desembaraçada.

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Nosso segundo cérebro

Posted by adi em julho 1, 2013

É gostoso ficar filosofando sobre o estilo de vida que temos e onde tudo isso vai nos levar, nos questionamos se a nossa vida está coerente com nossa opção ou aptidão espiritual e, quando nos damos conta que algumas coisas estão em desarmonia é sinal de que há algo errado mais profundamente, o qual precisa ser investigado. As coisas que pensamos e mesmo as que dizemos precisam estar em harmonia com os nossos sentimentos e ações. Mas não só isso, a maneira como nos alimentamos influencia de forma expressiva nossos estados de humores e por consequência nossas atitudes.

O que tenho aprendido também com minhas próprias experiências, é que as coisas simples e que nos são próprias em nossa origem, ou seja, àquelas que nos são naturais, são as que surtem maiores efeitos. Nesse sentido, como brasileira que sou, me é natural as coisas da nossa terra, então pra que complicar adotando dietas de outros povos mesmo que estas tenham sido criadas com o propósito de desenvolvimento espiritual? Este é um dos motivos ao qual eu já tentei mas não me adaptei a dietas vegetarianas, macrobióticas, entre outras. Além do que, atualmente, não sou muito a favor de radicalismos principalmente em relação ao nosso corpo e em relação a alimentação, porque entendo que a vida também é feita de prazeres e alegria.

Por isso, um dos meus interesses ultimamente se refere a alimentação funcional, que é um tipo de alimentação saudável baseada em “comida de verdade”, como no tempo da vovó e nada de alimentos industrializados e artificiais. Foi uma grata surpresa redescobrir – e digo redescobrir, porque já havia esquecido – a grande importância do funcionamento equilibrado do nosso aparelho digestivo.

Então você aí pergunta: Mas qual a relação entre a alimentação, o aparelho digestivo e a espiritualidade?  E eu respondo: é enorme  e fundamental.

Pesquisando sobre isso, e claro, sobre os benefícios desse tipo de alimentação sobre nosso organismo, percebi com empolgação toda a forma holística que o nosso organismo funciona, e também o axioma hermético: “o que está em cima é como o que está embaixo e o que está embaixo é como o que está em cima”, pode ser encaixado perfeitamente. De fato, nós somos um microcosmo em todos os sentidos e, sendo o universo holográfico, somos uma representação exata do macrocosmo.

Em seu livro “Tudo posso, mas nem tudo me convém” a Dra. Gisela Savioli nos explica de forma clara toda essa importância. Em entrevista recente ela disse: ” Porque o intestino é tão importante? Nós temos que parar de pensar que o intestino é somente um órgão excretor. Na hora que o embrião está sendo formado, no mesmo folículo embrionário saiu o cérebro e o intestino, então todos os neurotransmissores que sintetizamos no cérebro, nós sintetizamos no intestino. Nós temos mais neurônios no nosso intestino do que na nossa medula, em relação ao nosso sistema imunológico, de 50% a 75%  dos disparos de gatilho pra requerer sua ação vem do intestino”.

Encontrei esse excelente texto abaixo, escrito por Henrique Trejgier , explicando de forma muito clara sobre o funcionamento do intestino e ainda o porque atualmente ele é considerado nosso segundo cérebro.

“Nutrição & Estado Emocional – Os Neurônios Intestinais

A alimentação está relacionada com os estados emocionais.

O nº de neurônios do intestino é igual ao nº de neurônios do cérebro: 100.000.000.000 mais precisamente 86.000.000.000 (86 bilhões) em média.

Cada neurônio chega a realizar 1000 sinapses. Isto gera uma rede de 86 trilhões de pontos em média.

Agora, o numero de combinações destas 86 trilhões de sinapses é descomunalmente imenso.

Seria a operação 86 tri fatorial.

Ou seja: (86×10^9)x(86×10^9 – 1)x(86×10^9 – 2) x(86×10^9 – 3) x(86×10^9 – 4)…..

Para entender a operação dou como ex. 5fatorial = 5x4x3x2x1 = 120

Portanto a quantidade de combinações da rede neuronal do cérebro é muito maior que número de estrelas no universo conhecido.

A referencia cientifica é de Helion Povoa: O cérebro desconhecido e do livro: Saúde & Beleza Forever, de Mônica Lacombe Camargo

E por isso o intestino é chamado de 2º cérebro. Aliás as dobras e sulcos do cérebro lembram bem o jeito que os intestinos se montam no abdômen.

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Um pouco sobre a simbologia de Cloud Atlas, o filme

Posted by adi em fevereiro 12, 2013

Cloud Atlas, ultimo filme dos irmãos Wachowski (trilogia Matrix) e Tom Tykwer, no Brasil lançado como A Viagem, foi eleito o pior filme do ano de 2012 pela revista Time, muito embora, o critério de avaliação usado parece ter sido o de arrecadação nas bilheterias, de fato, a primeira impressão que o filme nos dá, é que os diretores perderam a mão nessa receita e o filme desandou, mas não de todo, sem tirar leite de pedra, eu diria que  ainda dá um bom caldo :).  Cloud Atlas não é um filme emocionante e de ação eletrizante como foi Matrix, também não dá para classificá-lo como um blockbuster. Apesar das muitas críticas negativas, classificá-lo como o pior filme do ano achei um exagero, até mesmo uma injustiça com os diretores.

cloud atlas 2

O filme é daquele tipo que ou se ama, ou digamos, não se gosta nenhum pouco, e isso acabou gerando muito mais opiniões negativas do que positivas sobre o mesmo. Por abordar uma temática filosófica recheada de simbologia, acabou agradando mais aos espiritualistas, já familiarizados com esses temas. Muito embora, há de se convir, que pelo próprio ritmo do filme de narrar seis histórias como em recortes, no qual, se mistura todos os gêneros, e quando quase depois de três horas esperando o final pra entendê-lo, ainda por cima, tem que montar o quebra cabeça filosófico; é muito compreensível que não é pra todos os gostos mesmo. Sem esse tipo de interesse (filosófico-espiritual), na certa que o filme se mostra tedioso. O diferencial de Matrix que capturou o público de imediato, foi que antes da filosofia do filme, o que se percebe e chama a atenção é toda a ação e luta, e depois é que vem o motivo da luta que retrata o mito do herói em busca de si mesmo, que, montado numa longa trilogia, teve tempo de sobra pra ser digerida sua parte filosófica pelo público.

Não pelos mesmos motivos acima, confesso que fiquei na dúvida se deveria escrever um post sobre a simbologia do filme ou não, porque, apesar da proposta que o filme apresenta se relacionar com os assuntos daqui, quando eu assisti ao filme, ele não me empolgou, não prendeu totalmente minha atenção, parece que ficou faltando alguma coisa, como liga, química, ou magia mesmo. Também não gostei da maquiagem que transformou os atores ocidentais em orientais, ficou cômica, para não dizer de mau gosto. Afora isso, tem sim aspectos bem interessantes, mesmo com algumas frases clichês, o filme passa uma mensagem que vale a pena pensar, e por isso trago alguns pontos que me chamaram a atenção.

Pra quem não leu o livro, como eu, perde-se alguns detalhes importantes, o que compromete um pouco na compreensão do filme quando assistido uma única vez. Tudo bem que a proposta principal do filme, que gira em torno da conexão da vida como um todo está óbvia desde o trailer oficial, mesmo assim, o roteiro adaptado pelos irmãos Wachowski do livro de David Mitchell, não conseguiu juntar totalmente as histórias, o que nos dá a ideia de uma certa superficialidade.

Assim como em Matrix, a primeira vista, só percebemos os significados mais superficiais, mas Cloud Atlas tem uma camada mais profunda de significados e de interpretação, nesse sentido os diretores foram geniais em instigar e plantar uma sementinha, o que de certa forma, vai depender de cada telespectador até onde ele quer chegar.

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Fernando Pessoa: O ensaio sobre a Iniciação

Posted by adi em fevereiro 6, 2013

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“Havia três razões pelas quais nas religiões pagãs certas verdades, ou coisas supostas serem verdades, eram transmitidas só em segredo e reclusão, por iniciação. A primeira era uma razão social: pensava-se que essas tais verdades eram impróprias para transmissão a qualquer homem, a nau ser que ele estivesse em certa medida preparado para as receber, e que elas teriam resultados sociais desastrosos se fossem tornadas públicas, pois isso significaria que seriam mal compreendidas. «Etiamsi revelare destruere est…» A segunda era uma razão filosófica: supunha-se que, em si próprias, essas verdades não eram de um género que o homem comum pudesse compreender e que lhe poderia advir confusão mental e desequilíbrio na conduta se lhe fossem inutilmente comunicadas. A terceira era, por assim dizer, uma razão espiritual: pensava-se que, por serem verdades da vida interior, essas verdades não deviam ser comunicadas, mas sugeridas, e que a sugestão devia ser impressiva, rodeada de secretismo, para que pudesse ser sentida como de valor; de ritual, para que pudesse impressionar e surpreender; de símbolos, para que o candidato fosse forçado a abrir o seu próprio caminho, lutando por interpretar os símbolos, em vez de se julgar cheio de conhecimento se a comunicação tivesse sido feita por ensinamento dogmático ou filosófico.

Não digo que estas três razões se apresentassem claras ou em separado ou em conjunto, embora assim divididas, nos espíritos dos antigos, sacerdotes ou leigos das suas religiões. Mas digo que, quando não por inteligência directa, ao menos por intuição, eles basearam as suas religiões neste esquema divisional.

As religiões dos Antigos, e sobretudo as religiões pagãs da Grécia e Roma, que são as que mais nos interessam, uma vez que os nossos espíritos são seus filhos, estavam divididas em três formas. Havia uma forma social, o culto, que era o do homem como cidadão. Havia uma forma individual, a poesia, que era do homem como não-cidadão; cumprido o culto devidamente, ele podia interpretar para si os deuses como entendesse e elaborar as suas lendas como lhe parecesse mais adequado. E havia uma forma secreta, a iniciação, que participava em segredo das características de ambas: era individual porque, mesmo quando a iniciação era colectiva como nos grandes Mistérios pagãos, era sempre o indivíduo o iniciado e não o grupo; era social, porque a iniciação era comunicada em ritual e o ritual é social.

O que com os Cristãos raramente está associado ou fundido com a poesia como acontecia com os pagãos. (Não compreenderemos a Idade Média até que compreendamos que a teologia era a sua poesia, que a ausência de poesia então mais não era que a presença da poesia sob outra forma).

Todas as religiões, porém, estão no mesmo estado que as grandes religiões pagãs. As três formas de religião serão encontradas de uma forma ou de outra em todas. Nas religiões cristas, por exemplo, temos o culto público, quer seja altamente cerimonial como na Igreja Romana, quer pobre até à nudez como nas seitas protestantes extremistas; temos a religião individual significando a reflexão pessoal sobre os dogmas e fórmulas de fé, e isto é teologia onde (com os pagãos), era antes poesia; e temos a vida interior do cristão, que é a sua iniciação, porque nas religiões cristãs a iniciação é considerada como dada por Cristo, só, misticamente, e não por qualquer sacerdote ou hierofante ritualmente ou ceremonialmente. Por outras palavras — cujo sentido mais exacto será compreendido mais tarde — a iniciação pagã encaminhou-se para a Magia, como fazem todas as iniciações rituais, e a iniciação cristã encaminhou-se para o Misticismo, como fazem todas as iniciações meditativas.

Qualquer que seja o número de graus, exteriores ou interiores, na escala de ascensão para a verdade, eles podem ser considerados como três — Neófito, Adepto e Mestre. Na realidade, os graus são dez — quatro para o Neófito, três para o Adepto e três, por assim dizer, para o Mestre. Há realmente também dois intergraus que ficam entre o primeiro e o segundo, e entre o segundo e o terceiro há ordens, estas também não numeradas. Os graus não numerados são graus de noviciado, enquanto os outros são, cada um na sua medida, graus de realização.

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Budismo: O Padrão Tríplice do Caminho

Posted by adi em janeiro 23, 2013

Não é difícil perceber como a vida atua num processo dinâmico e contínuo de transformações, nada é estático e permanente. A tradição budista sempre enfatizou a impermanência de todas as coisas como condição natural da própria existência. Observando a natureza ou o mundo ao nosso redor, mesmo nossa própria natureza, constatamos essa dinâmica da vida num contínuo processo de aparição e desaparição, ou melhor, de construção e desconstrução, materialização e desmaterialização, nascimento e morte. Há sempre uma renovação sobre as coisas já existentes em todas as camadas do ser, seja ela material ou psicológica.

Aliás, esse assunto tem sido uma constante nos posts aqui do Anoitan, não por coincidência, mas por ser a base e o propósito de todo caminho iniciático. Uns dos motivos de eu trazer esse trecho do livro da Francresca Fremantle, é que a partir do ponto de vista do budismo tibetano, da pra fazer uma excelente analogia tanto em alquimia, cabala e claro em psicologia analítica. Não só percebemos os mesmos fundamentos, bem como, nos traz uma amplificação dos conceitos das tríades da Árvore da Vida; das três etapas da Grande Obra dos alquimistas; e também do processo de individuação em busca da realização do Self em psicologia.

Segundo o budismo a realidade não é apenas o mundo dos fenômenos, ou simplesmente as coisas que aparecem; é também não-aparição e potencialidade. Essa potencialidade ou não-aparição no budismo é conhecida como vazio, a dimensão aberta da realidade. Entre esses dois pólos existe um terceiro estado, o fluxo de energia que os liga e os une.

O nível mais alto ou mais profundo é o vazio, a essência de todos os fenômenos. O nível mais baixo ou mais externo é a matéria, a manifestação real da forma física, e entre esses dois, há o nível intermediário que é a energia pela qual o vazio se comunica e se revela.

A essência é invisível, completamente além das esferas dos sentidos, um estado de unidade e simplicidade. A matéria é multiplicidade e diversidade perceptível aos sentidos físicos. A energia que flui entre eles partilha de ambos e pode ser descrita em termos do reino dos sentidos embora não esteja contida neles.

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Alquimia Esotérica Chinesa

Posted by adi em outubro 17, 2012

É uma raridade encontrar textos sobre alquimia chinesa na internet, raridade maior ainda é encontrar bons textos como esse aqui de uns dos maiores mitólogos, historiadores e filósofos das religiões, Mircea Elíade. Apesar de textos sobre alquimia usarem de uma linguagem simbólica e de difícil compreensão, o texto em questão é como uma pérola trazendo muita clareza sobre o trabalho interno de desenvolvimento espiritual, simplesmente imperdível a leitura.

” Até estes últimos anos, os cientistas europeus consideravam a “alquimia externa” ou iatroquímica (wai-tan) como sendo “exotérica”, e a “alquimia interna” ou da ioga (nei-tan) como “esotérica”. Se essa dicotomia é verdadeira na opinião de certos autores tardios (cf. p. 94), na origem o wai-tan “era tão esotérico quanto a sua réplica ioga” (Sivin, p. 15, nota 18). Efetivamente, como acabamos de ver, Sun Ssu-mo, ilustre representante da “alquimia externa”, situa-se por inteiro na tradição esotérica taoísta.

O alquimista transforma em coisa sua a homologação tradicional entre o microcosmo e o macrocosmo, tão familiar ao pensamento chinês. O quinteto universal, wu-hsing (água, fogo, madeira, ouro, terra) é assimilado aos órgãos do corpo humano: o coração à essência do fogo, o fígado à essência da madeira, os pulmões à essência do metal, os rins à essência da água, o estômago à essência da terra (textos em Johnson, p. 102). O microcosmo que é o corpo humano acha-se por sua vez interpretado em termos alquímicos. “O fogo do coração é vermelho como o cinábrio e a água dos rins é negra como o chumbo”, escreve um biógrafo do famoso alquimista Lii Teu (século VIII A.D.).[11] Homologado ao macrocosmo, o homem possui, no seu próprio corpo, todos os elementos que constituem o Cosmo e todas as forças vitais que asseguram a sua renovação periódica. Trata-se apenas de reforçar certas essências. Daí a importância do cinábrio, que se deve menos à sua cor vermelha (cor do sangue, princípio vital) do que ao fato de que, exposto ao fogo, produz o mercúrio. Ele encerra, portanto, o mistério da regeneração pela morte (pois a combustão simboliza a morte). Disso resulta que ele pode assegurar a regeneração perpétua do corpo humano, e, conseqüentemente, a imortalidade.

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A Necessidade de Se Mudar a Forma de Pensar

Posted by Filipe Wels em setembro 17, 2012

Anteriormente, escrevi sobre os memes e o inconsciente- sobre como nosso insconsciente serve de receptáculo para a transmissão de padrões cognitivos que filtram nossa percepção da realidade, determinando nossa conduta e reduzindo em muito o poder de escolha. Hoje quero falar novamente sobre o mesmo assunto, mas com outro enfoque.

Sabemos que formamos nossas crenças a partir de padrões de pensamento que são transmitidos por gerações (de maneira vertical- a criança é condicionada a ter a religião, a posição política e o time de futebol dos pais) ou de forma horizontal ( cópia de hábitos, valores e ideologias que estão com maior aceitação no momento) que condicionam nosso poder de escolha. Damos por certas muitas coisas que não são verdeiras- porque uma sociedade nos treinou, nos condicionou a aceitá-las como tal. Uma quantidade imensa do que damos como verdadeiro – e é compartilhado pela extrema maioria de pessoas- cai como um castelo de cartas quando lhes colocamos uma interrogação, um porquê. Muito do que julgamos como ponto pacifíco há anos e sequer ponderamos a respeito se revela uma bobagem sem tamanho quando agimos como advogado de acusação contra isso.

Nossas crenças e opiniões determinam as nossas escolhas, que se cristalizam em nossos hábitos. Por exemplo, você é condicionado a crer que determinada pessoa é superior ou inferior a você seja pelo gênero, idade, cor da pele ou condição econômica. Esse condicionamento fará com que você forme um juízo de valor sobre tal pessoa mesmo sem saber absolutamente nada sobre ela, influindo na forma com que a trata. Uma crença determinou sua atitude – e a atitude repetida forma o hábito. Somar o conjunto de crenças que nos influencia nos leva a perceber o quanto elas determinam o que comemos, como que vestimos, em quem votamos, como nos relacionamentos com os demais e com nós mesmos em praticamente tudo- e portanto, determinarão nosso futuro. Refletem-se em tudo, até em nosso modo de andar. Se você ocupa pouco espaço quando caminha, andando com os pés muito próximos um do outro, isso significa “não notem que eu existo, quero ocupar o mínimo espaço possível pra não incomodar ninguém “, revelando uma crença- inconsciente- de que é inferior aos demais. É possível dizer se determinada pessoa é introvertida pela forma como cruza os braços.

Daí a importância de ter um forte exame crítico com seus próprios hábitos – e não apenas as crenças em si, como disse antes- pois eles nos revelam nossas crenças, muitas das quais são inconscientes. Aquilo que acreditamos conscientemente também deve ser alvo de forte questionamento – principalmente quanto maior o grau de certeza que mantemos. Qual é a atitude comum que alguém tem quando uma idéia à qual está apegado recebe uma crítica externa? Ao invés de procurarmos analisar o argumento de quem a critica para ver se há algum grau de verdade, dizer ” inicialmente eu discordo completamente do que você diz, mas esponha sua opinião e os motivos que o levaram a chegar a tal conclusão que vou ponderar a respeito – e talvez você tenha uma certa razão, que possa me levar a mudar de idéia” imediatamente procuramos rebater o argumento contrário. Qualquer ataque contra nossas queridas idéias é , em vez de ser analisado e compreendido, rebatido de maneira automática, mecânica. Nos apegamos a elas por um motivo muito simples- como determinam nossas hábitos, aceitar que estamos equivocados nos leva a pensar que estamos vivendo de forma equivocada, o que é dolorido. Aceitar que estamos errados em algo que sustentamos há 1 ou 2 anos é simples. Quando são 15, 20 anos é muito mais difícil. Elas se cristalizam, e se não temos a postura que defendo como essencial- utilizar qualquer crítica ou acontecimento externo para questionar a visão que temos da realidade, procurar ler o que fala contra o que defendemos e não o contrário (é comum a leitura de artigos ou livros que compartilham e reforçam o nosso ponto de vista, quando o ideal é o contrário) à medida em que o tempo passa, nossa mentalidade passa a ser cada vez mais dogmatica, reativa e menos aberta à novas idéias . Convencer a um senhor de idade que determina certeza absoluta a qual se apega com tanto carinho desde a adolescência é completamente absurda é muito mais difícil do que com um jovem. Por isso a necessidade desse auto-exame contínuo.

Os amantes das certezas absolutas agem dessa forma porque tais conviccções dão um chão seguro para pisar. É a busca por ter as idéias ordenadas intelectualmente de maneira que diminua os riscos e cria uma situação confortável, o que é profundamente limitante. É o mesmo motivo pelo qual jovens de 25 anos ainda moram com os pais, ou que deixamos de ir conhecer uma pessoa interessante que vemos num shopping ou no ônibus – quando faze-lo poderia levar uma nova amizade ou quem sabe até a um casamento. Exposição, ousadia e não ter medo de assumir riscos são fatores fundamentais tanto em nossa relações profissionais e pessoais quanto no que se trata de alterar sua visão de mundo. A prisão em zonas de conforto torna o homem estático, e acaba se confortando com a hipótese esdruxúla de que com a idade vem a sabedoria ( que é o mesmo que acreditar que basta frequentar uma academia e ficar parado numa cadeira vendo os outros se exercitarem que seus músculos se desenvolverão) que , quando na verdade o que vem é uma mente decrépita ao menos que você não tenha medo de ser o maior inimigo de sua forma de pensar.

Resumindo o que foi dito até aqui: nós consumimos sem saber um conjunto de crenças que determina nossa maneira de agir, o que se cristaliza em nossos hábitos que é o que determirá o nosso destino – se há algum destino traçado nas estrelas que pode ser previsto por um mapa astral, não sei, mas há um destino que é determinado por nossos crenças, sendo a maioria delas inconsciente. Por isso é necessário um comportamento crítico com a sua forma de pensar ( ao invés de sair em sua defesa sempre, que é a atitude mais comum ) e usar as adversidades do cotidiano para usar as emoções que elas nos provocam para fazer um exame instrospectivo e constante de si, já que as emoções são portas de entrada para o inconsciente ( daí a importância de descobrir a si mesmo através da auto-crítica). Claro que isso leva a desconforto e insegurança, mas o desenvolvimento do homem so é possível quando se aprende a viver perigosamente, saindo da zona de conforto , ousadando e não temendo situações de risco. Falta ainda falar sobre como isso altera às pessoas em volta.

É comum pensar que eu posso fazer o que bem entender da minha vida- se cumprir as leis e não fizer mal a ninguém, posso fazer o que quiser de mim que não farei mal a ninguém porque atitudes de nossa vida privada não afetam a outrem. E isso é um erro. Tudo o que você faz afeta aos demais de alguma maneira.
Crenças criam atitudes. Atitudes criam hábitos. Um conjunto de hábitos em comum de várias pessoas em determinado espaço social criam uma cultura. Uma cultura se irradia por si mesma, ela tem o poder de se multiplicar pelos motivos que já foram abordados aqui. Portanto, se você tem um comportamento destrutivo para você mesmo -falta de cuidado com a saúde, ganância,preguiça,entre tantos outros- que aparentemente “não fazem mal a ninguém” , você está imeditamente contribuindo para a formação de uma cultura. Não faltam exemplos de que não existem escolhas puramente individuais.

Uma das consequencias de praticar o que escrevi aqui é conhecer a si mesmo- e consequentemente dos demais, porque quem conhece sua psique também conhece a dos outros. Isso leva a mudança radical em hábitos, que são substituídos por outros melhores e mais saudáveis, o que influencia de forma positiva aos demais. Por isso é tão importante mudar sua forma de pensar. Quer queira ou não, você sempre está contribuindo para mudar o mundo, para pior ou para melhorar. O desenvolvimento de cada um é determinamente no desenvolvimento do meio em que vivemos – e por isso a crença de que revoluções armadas ou mesmo que as pessoas “aprendam a votar” vao transformar nossa sociedade são ingênuas . Nossa responsabilidade com nós mesmos anda de mãos dadas com nossa responsabilidade com os demais.

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DIALÉTICA DO SAGRADO – por André Dantas (parte 2)

Posted by adi em setembro 11, 2012

” Enquanto antigamente o homem só se considerava verdadeiramente humano por mimetizar um modelo trans-humano, o homem moderno se reconhece humano na medida em que não apela para nada além de si. Para o primeiro interessava somente o mito, a história sagrada enquanto narrativa arquetípica que provê modelos típicos de comportamento, enquanto o segundo constrói sua própria história como narrativa do progresso, da superação do antigo onde o sagrado torna-se um obstáculo à sua liberdade. Se para o primeiro era a manifestação do sagrado que tornava esse mundo algo real, o segundo dessacraliza o mundo para conhecê-lo objetivamente. Tendo retirado os seus trajes sagrados ele se reconhece como o único sujeito agente da história, recusando qualquer apelo à transcendência20.

Tal dinâmica é o resultado do próprio cristianismo no qual deus, ao transcender a natureza, tornou-se tão inatingível para o homem que sua existência foi posta em dúvida. Mas essa é apenas uma parte da história. A outra é que esse arrancar-se violento da natureza é o que possibilitou a encarnação humana de deus. Para compreendermos melhor esse movimento lógico, precisamos retornar ao velho testamento onde estão as origens da religião cristã para flagrar o momento bíblico onde deus nega a si-mesmo enquanto fenômeno natural. Esse momento é o êxodo dos judeus do Egito, que enquanto povo escolhido não podia mais compartilhar a sacralidade natural dos egípcios e seus deuses com cabeças animais. Moisés sob o comando de Yaweh retira o seu povo dessa nação profana e os conduz através do deserto em direção à terra prometida. Durante esse êxodo há um momento crucial onde os dois mundos colidem. Um situa-se nas terras baixas, caracterizando-se por um deus que aparece em uma forma animal feita de metal e cultuado através de oferendas. O outro mundo é o pico da montanha, regido por um deus invisível e transcendente com um código moral de leis gravado em tábuas de pedra. O encontro dos dois se dá com um Moisés inflamado pela ira divina do deus da montanha acabando com a celebração em honra ao deus do bezerro de ouro. O episódio encerra-se com Moisés forçando todos a uma decisão, ao perguntar quem está do lado do senhor e comandando esses a pegarem suas espadas e matarem os discípulos do deus do bezerro de ouro.

O bezerro representado na imagem refere-se a uma antiga representação taurina de Yaweh. Isso significa que o que ocorreu na passagem bíblica não é um culto a um deus estranho, uma infidelidade rebelde. O que a narrativa personifica é uma transformação na imagem de deus, no modo como o sagrado relaciona-se com o mundo profano. Nas antigas religiões politeístas encontram-se vários deuses antropomórficos junto a animais que os servem, deidades em forma humana mostradas com os pés descansando em touros. Havia na antiguidade tardia um culto no qual um trono vazio era erigido para convidar uma deidade invisível a tomar posse dele. A imagem do bezerro de ouro pode ser compreendida como algo similar, uma estátua que servia de pedestal erigido para convidar o deus invisível a descer das suas alturas21.

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