Anoitan

“Se sempre há um amanhã, sempre há um anoitã.”

Equanimidade

Posted by maelstrom5 em janeiro 10, 2009

Tudo é um, e todas as coisas são prática, e tudo é uma coisa só. Ao escrever neste momento com presença e sinceridade a prática é tão importante e válida como se eu estivesse meditando, rezando ou fazendo algum ritual. Abraçar uma pessoa e andar de ônibus, de carro, também são atos de prática. Nada é irrelevante no mundo do Nirvana, no mundo de Deus. Tudo é pratica. Se eu me sinto bem na igreja ou no zendo, e se aquilo parece ter mais sentido e me aproximar mais de mim mesmo e do sagrado isto é bom, sem dúvida, mas meramente acidental. Tudo é prática, não há diferenciação.

pedras-zen1No Templo em que medito colocamos, certa vez, uma pedra no local onde havia uma imagem do buda. “Secularismo” Zen. Nada é sagrado ou tudo é sagrado, o que dá no mesmo.

Só que tendo a compartimentalizar minha vida em regiões estanques, incomunicáveis e tornar uma coisa mais sagrada do que a outra. Fazer supermercado é profano, rezar é sagrado. Mas na verdade a totalidade abarca toda a minha realidade e muito mais do que minha realidade, então é lógico e sensato que eu dê um igual e elevado valor à todas as minha atividades. Talvez por isso se diga que o Zen seja “comer quando se tiver fome, e dormir quando se tiver sono”.

A lucidez a meu ver é a principal vantagem da ausência de uma teologia e de uma imagem de Deus, ou de qualquer outro ser divino/iluminado. Na medida em que há um modelo, uma forma ideal/platônica, eu vou sempre querer mais ou menos assemelhar-me a eles, fazendo surgir assim um desvão entre mim e o modelo, entre o sagrado e o profano, e em última análise entre mim e a realidade. Ter um modelo é ter a lucidez comprometida. Idealizar uma pessoa por exemplo, de certa forma é perder o chão, e consequentemente ter o relacionamento com ela prejudicado, porque este passa a ser o relacionamento com um idéia própria e não com o outro. E ninguém gosta de ser preterido por uma idéia. Segundo os grandes sábios e santos nem mesmo Deus.

11 Respostas to “Equanimidade”

  1. Islan... said

    Gasshô!

  2. Adi said

    Salve Kingmob,

    >>Na medida em que há um modelo, uma forma ideal/platônica, eu vou sempre querer mais ou menos assemelhar-me a eles, fazendo surgir assim um desvão entre mim e o modelo, entre o sagrado e o profano, e em última análise entre mim e a realidade. Ter um modelo é ter a lucidez comprometida.Ter um modelo é ter a lucidez comprometida. Idealizar uma pessoa por exemplo, de certa forma é perder o chão, e consequentemente ter o relacionamento com ela prejudicado, porque este passa a ser o relacionamento com um idéia própria e não com o outro.<

    Me parece que nao conseguimos escapar disso, nosso mundo eh de acordo com a visao que temos dele, as pessoas sao pra nos de acordo com nossa visao e interpretacao delas, e claro que isso nao eh o real, eh a imagem que temos formada em nosso cerebro. Nem diria que eh idealizar algo, mas simplesmente a maneira como vemos tudo mesmo.

    O Zen eh muito bonito, mas pra determinadas mentes, por demais ocidentais (meu caso), acho muito dificil ir direto ao Vazio.

    Abs
    Adi

  3. Nossa! Realmente esse texto resumiu o que é o zen. Falou tudo !

  4. luramos said

    eh logico e sensato, mas nao sentimos isso. Nao conheco quem consiga dar o mesmo valor…(considerando-se que hah quem consiga mais , hah quem consiga menos)

    entao cria-se o ideal de tornar tudo sagrado(ou tudo profano, dah na mesma) e cria-se entao um modelo, e a lucidez, segundo voce mesmo disse, eh novamente comprometida.

    relacionar-se com uma ideia ou ideal, tira o chao, eh verdade, porque pondo em contato o ideal com o que chamamos “mundo real”, observamos a diferenca e nos perdemos.
    Mas tambem descobrimos quanta perfeicao e beleza podemos desejar e criar. A confusao eh quando nao hah consciencia da diferenca entre o que estah idealizado e do que efetivamente somos capazes de vivenciar.

  5. Kingmob said

    >Gasshô!

    Gasshô!

  6. Kingmob said

    Salve, Adi
    >O Zen eh muito bonito, mas pra determinadas mentes, por demais ocidentais (meu caso), acho muito dificil ir direto ao Vazio.

    Eu tive dificuldades quando eu comecei a praticar o Zen. Simplesmente porque minha mente não conseguia achar coerência naquilo. Mas me aconselharam a sentar e seguir a respiração sem se preocupar em entender. Daí eu parei com a ânsia de entender alguma coisa com o tempo.

    Eu ainda não refleti muito sobre isso mais me parece que a diferença ocidente x oriente é um questão de introversão x extroversão. E como opostos que são quem está em um pólo não se sente confortável com o outro em um primeiro momento. Na verdade parece que há um abismo entre introversão e extroversão, e eu não vejo como entender uma pelas categorias e conceitos da outra. Se eu me pautar na experiência direta vou querer me desfazer dos conceitos que se tornam insuficientes. Se eu quiser me pautar nos conceitos vou achar a experiência direta algo distante e impossível.

    Pace e Bene.

    Mob.

  7. Adi said

    Oi Kingmob,

    Engracado, eu escrevi mais coisas, mas quando postei faltou um pedaco, nem percebi…. eu gostaria de acrescentar entao:

    <<E ninguém gosta de ser preterido por uma idéia. Segundo os grandes sábios e santos nem mesmo Deus.<
    Na minha modesta opiniao, Deus eh uma ideia na mente de cada um, o mundo eh uma ideia jah formada na mente de cada um, e de acordo com essa ideia, nossas experiencias da vida vao sendo interpretadas e moldadas pra seguir esse padrao que esta gravado no cerebro. Nao tem como fugir disso. Talvez substituimos por uma ideia melhor, mais adequada ao momento, mas continua sendo uma ideia, mesmo que sem forma e sem imagem. Segundo o Budismo Tibetano, a Alquimia e mesmo a Psicologia Analitica, a Imagem de Deus eh fundamental na realizacao do Si-mesmo, e me parece que eh o proprio arquetipo quem cria e da forma a imagem pelo qual vai ser constelado pela consciencia. Haja visto nos sonhos e nos muitos simbolos que representam o Si-mesmo, como a imagem eh importante.

    >Eu ainda não refleti muito sobre isso mais me parece que a diferença ocidente x oriente é um questão de introversão x extroversão.<

    Eh sim, nohs ocidentais somos mais extrovertidos, buscamos nossa realizacao fora, nas formas, imagens, jah os orientais sao mais introvertidos e tem muito mais facilidades para a meditacao, para a interiorizacao, etc…
    Por isso temos mais facilidades para praticas ritualisticas, onde exteriorizamos e damos forma ao divino.

    Abs
    Adi

  8. Elielson said

    Bah cara… desculpe meu primeiro comentário…
    Nem vi o Autor do post e deduzi errado porque cheguei aqui num link feminino… tá ligado?

    Mas tá… Obrigado pelo compartilhamento:)

    A expêriencia que eu possa chamar de zen é deixar a ordem e submeter-se ao caos.

    Acho que o Pai-nosso é Zen.

    A procura por um reflexo deve-se a inconstância da nossa própria imagem, não aceitando-a buscamos a melhor imagem fixa que há em nosso alcance… e fazemos isso somente pra facilitar a sobrevivência, deixando que nossa imagem perca sua inconstância ao fixá-la no modelo…

    Tão deturpada é a sensação de ser fixado em um meio que as coisas acabam fluindo e nos “deixando” no meio… da viagem…

    Eu posso por a culpa no relógio, posso por a culpa no discipulo do relógio…

    Mas não só o relógio impõe o comportamento…
    Quando permitimos que forneçam ingredientes pra nossa composição… podem colocar o elemento coletivo que faz com que aceitemos a imposição ilusória do sucesso… mas isso é pra quem quer…

    Oferecemos para receber… as práticas calculadas podem distrair, assim como a distração pode descontrolar as práticas. Acho que o bom procedimento nas práticas automatizam o calculo para o favorecimento tanto do instinto quanto da vigilância. E não nos preocupemos em medir, a não ser que seja para desmedir.

    Vlw ai Kingmob… ao infinito e além:)

  9. Fiat Lux said

    Olá Kingmob,

    é meu primeiro comentário tb, após inúmeras visitas.

    Parabéns, o blog de vcs é muito instigante!

    “Tudo é um, e todas as coisas são prática, e tudo é uma coisa só. Ao escrever neste momento com presença e sinceridade a prática é tão importante e válida como se eu estivesse meditando, rezando ou fazendo algum ritual.”

    Ao ler esse trecho, me veio imediatamente a palavra Intenção da criação.

    Associando essa idéia à teoria da Fisica Quântica, me convenço cada vez mais que todo o pensamento conscientemente gerado pelo Eu Superior ou Self consegue manipular a realidade em que vivemos para o nosso benefício e harmonia, mas o pensamento inconsciente gerado pelo ego, é o que a bloqueia e nos faz acreditar que o problema está lá fora e não aqui dentro.

    Mas a dificuldade de se atingir esse nível de Intenção, que “exige” uma mescla de espontaneidade e pureza, são justamente os condicionamentos ocidentais que cultuam a satisfação do ego no exterior, nas formas, (como disse o Adi) acreditando apenas naquilo que vê , que seja palpável ou que seja mensurável. É o ego bloqueando a expressão do Eu e confundido nossa verdadeira identidade.

    Na minha modesta opinião, além da questão introversão x extroversão da cultura ocidental, me deparo com a questão simplicidade x complicação.

    A mente ocidental tem uma grande dificuldade de conviver com o subjetivo, com o incomensurável, com a passividade da natureza oriental.

    De uma certa forma é um condicionamento de ambos os lados, mas o condicionamento oriental por estar voltado para a interiorização, a meu ver, está mais próximo da natureza universal e já é um grande passo no caminho da compreensão e união com o Todo. A ironia é que a Psicologia se utiliza dessa ferramenta de interiorização para tentar curar os males ocidentais.

    Talvez por eu ter sido criada numa cultura oriental com influências budistas, consigo enxergar com uma visão mais simplista, menos caótica, interagindo com a Totalidade de uma maneira mais serena, mesmo vivendo e sofrendo as influências dessa dualidade cotidiana, mas mesmo assim não é fácil.

    Quem sabe, se o ocidente , ao invés de buscar primeiramente as fórmulas milenares que esvaziem a mente e que o liberte da dualidade idealizando a segurança num encontro com o sagrado, simplesmente observasse seu interior fragmentado, consciente de que as inúmeras escolhas e infinitas possibilidades estão dentro de sua mente e criarão a realidade ao seu redor, ele
    perceberia que a plenitude é apenas uma consequência e não o objetivo a ser almejado.

    Sem o auto-conhecimento, é impossível esvaziar a mente e se tornar um observador do ego.

    E se tivermos consciência da responsabilidade das ações disitintas do ego e do Eu, compreenderemos que a meditação zen(oriental) que observa, nada mais é do que o Orai e vigiai(ocidental), que nos foi legado para que nossos pensamentos(intenções) se mantenham na frequência da harmonia da natureza divina, crística ou cósmica, aonde não há separação, tudo é um.

    A simplicidade da consciência de dormir qdo se tem sono e comer qdo se tem fome é tão difícil assim de ser realizado?

    Abçs

  10. Adi said

    >>é meu primeiro comentário tb, após inúmeras visitas.<
    You’re welcome Fiat Lux.

    >Quem sabe, se o ocidente , ao invés de buscar primeiramente as fórmulas milenares que esvaziem a mente e que o liberte da dualidade idealizando a segurança num encontro com o sagrado, simplesmente observasse seu interior fragmentado,…<

    Faz muito tempo, li num livro, que o ideal seria a juncao entre oriente e ocidente, onde o oriente se tornasse mais materialista e pondo em "pratica" o ideal de sua cultura, e o ocidente mais voltado pro interior, que nao fosse tao materialista, etc e tal, e tambem na mescla das praticas oriente/ocidente . Naquela epoca nao entendi direito, mas hoje vejo como se fosse a uniao dos opostos, e isso em todos os aspectos da vida, nao somente entre bem e mal, mas todo abrangente, onde inclui atitude, acao, pratica em concordancia com o interior, com o mundo das ideias e do pensamento, onde a acao fosse a extensao da ideia, ou a materializacao da mesma. E entao voce diria: e jah nao eh assim, pois pois.
    Soh que ainda desorganizada, sem criatividade, soh com os poderes do ego; sem ser a materializacao da "POTENCIA", da Verdade. Esse eh o ideal humano, materializar o Divino e o mundo das Potencias, dessa forma creio, vai ser sempre um bem comum a todos e nada egoista.

    Tambem concordo que a maior beleza das coisas estah na simplicidade dela mesma, nossa mente eh que complica e dificulta tudo.

    Abs
    Adi

  11. “É bom sempre deixar um espaço para o descontrole, para o impensável.” Poesia em estado puro.

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